O perigo de ter políticos a brincar aos polícias

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Em Curso O perigo de ter políticos a brincar aos polícias

Mensagem por dragao Seg 02 Dez 2024, 16:30

Portugal está na rota do tráfico internacional de drogas, principalmente por via marítima, e os números da Polícia Judiciária mostram-no categoricamente. No relatório anual de 2023, dá conta da apreensão de 21,7 toneladas de cocaína (subida de 31,4%), sabendo-se que a droga capturada é apenas uma ínfima parte daquela que escapa aos radares e entra no mercado.

Recentemente, no DN, o diretor-geral da Polícia Federal brasileira admitiu que decorrem investigações sobre a presença de facções criminosas daquele país em Portugal, sem as nomear. Mas em causa estarão dois dos maiores grupos de crime organizado do mundo, o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho. O perfil desses cartéis, assim como o desejo de expansão, é bem conhecido: são organizações transnacionais, capazes de intervir em toda a cadeia do tráfico, militarizadas, e com bolsos fundos que lhe permitem corromper funcionários em lugares chave como portos e aeroportos, bem como forças de segurança.

Para funcionarem em pleno, também dependem de outro elemento: terem ‘soldados’ que tratem e vigiem a logística do tráfico, que controlem as ruas e exerçam força perante grupos rivais, e que distribuam a droga pelos pequenos traficantes que a fazem chegar ao consumidor final. O RASI de 2023, além do aumento de 19,4% dos crimes ligados ao consumo e tráfico droga, nota a subida da criminalidade juvenil (+8,7%) e grupal (+14,6%), o que quer dizer que há no país um crescente campo de recrutamento para as organizações criminosas operarem.

Basta juntar 2+2 e é fácil entender que Portugal, como já acontece em países como Bélgica e Holanda, que têm cidades portuárias (Antuérpia e Amesterdão) há muitos anos na rota do tráfico, possa vir a ser palco de um tipo de criminalidade bem mais violenta do que a que conhecemos hoje.

O tema da segurança deve, por isso, ser discutido sem tabus, mas também ser tratado com o recato que a atividade investigatória necessita. No entanto, o que Luís Montenegro fez na quarta-feira foi o contrário. Marcar uma comunicação ao país em horário nobre, criando suspense, para anunciar que confia no trabalho das polícias (o contrário é que seria notícia) e um reforço das frotas da PSP e GNR (investimento necessário, pois ter mais carros na rua aumenta a visibilidade policial e tem um efeito dissuasor do crime) foi transformar um ato solene numa manobra política com o objetivo, embora não-declarado, de piscar o olho ao eleitorado do Chega.

Não é com comunicações inócuas que se ganha credibilidade. Além disso, querer disputar o campeonato dos números de circo mediático com o Chega é tempo perdido, pois nesse território o partido de André Ventura é especialista nato – como, aliás, se viu ontem com o caso dos estandartes no Parlamento. A segurança é um assunto sério. Ter políticos a querer brincar aos polícias não serve os interesses de ninguém.

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