A impossível subordinação

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Mensagem por António Soares Qui 10 maio 2012, 14:31

1. A ideia
É quase evidente, é quase uma verdade que grita, o facto dos pequenos serem educados pelos adultos como se pertencessem a eles, como se fossem da sua propriedade, até uma coisa, diria eu. Uma coisa que deve ser estruturada conforme as formas de pensar e agir dos adultos. Um dever, o estruturar, o comportamento infantil à maneira que o adulto entende o mundo. Tenho observado ao longo dos meus anos de trabalho de campo, o facto da subordinação, por sim ou por não, dos mais novos aos adultos, no lar ou nas instituições às quais são enviados para aprenderem a teoria da cultura do seu grupo social. Uma subordinação definida por mim já há alguns anos, como a sujeição sem alternativas ao que o adulto pretende retirar do mais novo. Até ao ponto de existirem adultos que escrevem o que deve ser feito para organizar o processo de subordinação que estruture a personalidade, como deve ser feito esse processo e quando deve acontecer.
Tenho lido no Alcorão dos muçulmanos, no Catecismo de Igreja Católica Romana, no Código Canónico da mesma instituição, que a infância é todo o ser humano que nasce, cresce e começa a entender o mundo aos sete anos (Cânon 95 do Código referido, mais tarde transferido para o Direito Civil no Século XIX). Como se a aritmética fosse parte da reprodução da infância. Como se a contabilidade dos dias, meses e anos, fossem parte da educação ou um objetivo definido para moldar as emoções e a inteligência dos mais novos. O que não tenho observado com frequência, é o entendimento do adulto que orienta a geração seguinte pelos textos acima referidos, que esse adulto parece não conhecer; ou, se conhece, quer virar as costas a esse saber. Saber que impôs, na infância do adulto de hoje, um comportamento pesado e duro de hierarquias a serem respeitadas por sim ou por não, sem explicações. Porque estava essa hierarquia dentro da interação social, do convívio do seu grupo, dentro do seu contexto histórico. Penso que há uma contradição permanente entre o que adulto sabe desde a sua infância e o que deve fazer na época da sua suposta maturidade. Maturidade que defino como o entendimento das alternativas económicas perante recursos que dão ou não mais-valia para lucrar. Contradição que sintetizo assim: o adulto em criança, aprende na base do ensino da teoria religiosa do seu grupo social que deve ignorar a seguir no intuito de concorrer com o seu próximo. Esta contradição é entre as emoções solidárias e os deveres concorrenciais que permite um conforto na corrida entre os indivíduos do seu grupo. Um conforto definido como ser o melhor e mais habilitado, com maiores posses e alternativas do que o seu próximo. A contradição da qual parte a transferência de saberes, é entre amar e bater, comportamento esperado dos mais velhos. Mas, ai da criança que bata para ganhar! É punida. O adulto é definido como um ser concorrencial que manipula recursos; a criança é definida como a entidade aritmética que deve fazer o que o seu adulto diz.
2. A contradição
Definida assim, penso que devemos avançar para a base do comportamento. Aí há também duas alternativas: o ensino da teoria religiosa na catequese dos cristãos ou nos mandalas das escolas corânicas dos muçulmanos. As culturas cristãs, especialmente a Romana, dedica parte da atividade dos adultos a transferir a ideia da igualdade entre todos e de amor ao outro, definido como próximo ou irmão filho de uma mesma divindade criadora do ser. As escolas muçulmanas orientam para a aprendizagem decorada do texto sagrado, conforme o qual devem sempre agir de forma homogénea durante a sua vida toda. Para todas as crianças, o caminho fica traçado e não pode nem deve desviar-se do mesmo sob pena de exclusão do grupo social. Ainda que essa ideia seja manipulada mais tarde para obter os objetivos de vida que a sociedade globalizada manda: acumular bens de forma individual e em luta aberta com os outros e assim se ter uma vida sossegada e tenra…para si próprio. Eventualmente, tenra para os seus ou com os seus. As crianças são abafadas, assustadas por esta contradição. o amor é aprendido porque é ensinado, mas observa o adulto debater, bater, concorrer sem nenhuma gentileza carinhosa com o próximo durante os seus dias aritméticos da infância. Eis porque os pequenos se debatem entre eles qual é o pai mais forte do que o outro, um debate sempre presente, como tenho observado nos meus variados trabalhos de campo. O adulto não entra no mundo da criança para o entender e ensinar a perceber que há outros seres humanos que merecem a simpatia e a gentileza que os mais novos são capazes de dar. A criança observa a luta dos adultos sem ouvir da parte deles uma explicação dos motivos dessa luta. A criança precisa dessa explicação para se estruturar como ser humano coerente e lutador na sua vida adulta, não apenas, na sua vida infantil. A agressividade é um sentimento existente na raça humana, necessária de ser entendida pelos pequenos para aprender a usar as suas próprias armas intelectuais e físicas quando for preciso defender a sua auto estima, sua maneira de ser, sua família. O adulto tem o dever de entrar no mundo do mais pequeno para, desde os seus conceitos ainda não desenvolvidos, esse novo ser saiba que o mundo não é uma canto de paz e harmonia. Dever, digo, por causa do seu maior de idade estar a par da heterogénea forma da interação social. Dever, digo, porque esse adulto é um experto ou um perito nos debates, nas amizades e nas zangas dos seus pares. A criança luta por emotividade, o adulto luta com racionalidade. Racionalidade transferida embrulhada na emotividade da época aritmética que define a infância. Infância que aceita e acolhe o que o adulto faz se este, com calma e carinho, sabe fazer avançar para dentro dos seus interesses, a geração dos pequenos, ou a esse pequeno que vive em casa com adultos que até aparecem gastos do trabalho do dia e desejam silêncio. Silêncio que podem conseguir apenas se o seu interesse pessoal é considerado e, a partir desse interesse, ficar abstraído no seu próprio objetivo de vida. Se, com a criança, se faz um ritual para estruturar o seu tempo, com o saber permanente do mais novo de que é assim, para ser feito, enquanto sente paz e sossego por causa do ritual ser respeitado dia após dia. O que estrutura a criança, é a reiteração de uma forma de vida apoiada pelo adulto capaz de dizer onde é que está e para onde é que vai e por quanto tempo. O imaginário infantil desenvolve-se enquanto fica calmo dentro do seu mundo pessoal, por causa de haver calma dentro do seu lar. Calma possível enquanto o centro das atenções é esse ser e não a doença do adulto, a raiva entre esses adultos, a luta entre eles, ou a distância que ganham da geração que se educa ao observar aos adultos e entender que o mundo não está composto por seres humanos iguais, bem como pela diferença entre todos eles, ou em saber, ou comportamento, ou posses.
3. Saber religioso
A religião, seja ela qual for, é uma teoria que defina a interação entre os seres. É a teoria da cultura ou a forma de materializar as ideias que surgem da vida em sociedade. O comportamento naturalmente agressivo dos seres humanos que batem para ganhar, está regulamentado por eles próprios em teses de subordinação sucessiva. A primeira subordinação é para a Divindade que fez o mundo e deu a vida. A seguir, a subordinação aos ministros que gerem essas teses e definem uma cadeia de deveres entre pessoas, sejam judeus ou cristãos, gerem com os denominados dez mandamentos. Entre muçulmanos, a partir dos numerosos artigos do livro do Profeta Mohamed, artigos aceites à risca. As duas teses, a judaica cristã e a muçulmana, regulamentam o convívio, mandam respeitar as relações contraídas, obrigam a descansar, definem a propriedade da terra e os seus recursos, ditam as leis do comércio ou troca entre pessoas, avaliam igualdades ou desigualdades entre pessoas e bens. Nesta teorias, os bens em frente das pessoas, especialmente se esses bens são básicos para reproduzir o grupo. Entre os cristãos romanos, todas estas definições estão contidas no supra referido Catecismo. Catecismo que contém 2865 artigos escritos em 603 páginas. Trata, principalmente, de incutir a ideia da existência de uma divindade que garante a relação social solidária entre pessoas de diferente estrato social e de defender-se de qualquer outra ideia que não seja a que esse livro define. Não é por acaso que delimita e exclui pensamentos denominados totalitários, como as ideias comunistas, socialistas e algumas das denominadas capitalistas por serem ateias, é dizer, por definirem um agir social que não considera a Divindade como centro e motor de toda ação, na base de uma pretendida defessa da dignidade humana e de um pretendido bem comum que considera a greve como uma atividade pecaminosa pela rebeldia que implica à autoridade patronal, o facto dos trabalhadores não concordarem com os proprietários naturais dos bens. Naturais, por adquirição, herança, criação ou produção dos mesmos. Estas ideias são, saibam ou não, praticadas pelas pessoas, apesar de se definirem como entidades humanas desligadas da divindade e das práticas rituais. Sem darem por isso, as pessoas da cultura Ocidental vivem o que o Catecismo diz. Os muçulmanos são mais explícitos e agem pelo livro, citado para todos os seus atos e trocas. O respeito entre muçulmanos nasce do acreditar que cada indivíduo está a agir dentro de um saber compartilhado com outros. Os grupos sociais cristãos romanos, normalmente viram as costas ao saber criado no Ocidente, a letra escrita desse saber que acabam por conhecer na base de formas orais de entender os mandamentos dedilhados nos artigos do livro que define o convívio.
Este desdenhar a base do saber social, acaba por ser a contradição incutida no comportamento das pessoas. Se há monogamia, se há respeito pelos bens do outro, se há dias de repouso, se existe distância entre o meu e o teu -falta de cobiça -, se há comportamento ritual, se as pessoas tentam entender a seu trabalho e, para além do mais, trabalham pelo dinheiro ou pelo prazer de trabalhar, a raiz destas ideias reside neste livro sagrado dos ocidentais que acabam por desconhecer e agirem, às tantas, contra si próprios ao procurarem lazer e lucro de forma simples, direta e fácil. Sem jamais reconhecer que o seu saber, o seu entender, nasce da ideia bíblica explicada catequese ou, simplesmente, agidas no quotidiano. A contradição na transferência de ideias entre adulto e criança nasce do facto de desconhecer o fundamentalismo das teses religiosas. Os ocidentais aceitam ou rejeitam seres humanos, conforme as ideias que eles possam ter. Até o ponto de se dizer: tu não acreditas em Deus, mas Ele acredita em ti, não tens alternativa. É assim que começa o texto que comento: O homem é capaz de Deus. Ideia contra a qual muitos indivíduos que procuram maximizar seus bens para serem ricos, rejeitam, mas que acabam por aceitar por causa de se estar perante um texto que delimita o afazer social para a sua conveniência, por causa de estruturar o processo de conduta social. O Ocidente passa a ser um povo fundamentalista que acaba por não conhecer a base escrita do seu comportamento, ainda que esse comportamento exista nas leis civis e de comércio que orientam o saber social. Uma forma triste de confundir um sentimento denominado fé e igreja, com um saber que as define. E que é transferido para os mais novos. Mais novos que acabam por não entenderem essa contradição fatal dos seus adultos: “Queira Deus…mas, deixa-me em paz que estou cansado”
O leitor sabe e tem a palavra. A minha, vai ficando por estas linhas, sem deixar de dizer que, nos dias em que vivemos, fala-se de ataques terroristas de fundamentalistas islâmicos sem definir o fundamentalismo terrorista dos que possuem a tecnologia que mata e escraviza, as armas nucleares e a falta de investimento financeiro para incrementar o lucro e sejamos capazes de ter trabalho, comer, pagar as nossas dívidas, guardando parte de esse lucro para nos divertir. Eis porque existe uma subordinação impossível da criança ao adulto. Procurada racionalmente pelo mais velhos, desentendida emotivamente pelo novo ser em formação contraditória.

http://aventar.eu/2012/05/10/a-impossivel-subordinacao-2/#more-1140856



As pessoas gostam de ser conservadoras no valor da Familia e Tradição, agora desvirtuarem o conservadorismo com o neo-liberalismo.............................As pessoas não gostam de ver os mais próximos morrer de Fome.
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Mensagem por bezoura Qui 10 maio 2012, 16:49

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Mensagem por Quintiaes Qui 10 maio 2012, 16:50

Também só consegui ler dois parágrafos...
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Mensagem por António Soares Qui 10 maio 2012, 17:22

Quintiaes escreveu:Também só consegui ler dois parágrafos...


Pra ti grande camarada Quintiães, vou ser abreviado na moral da história.

Se os políticos em Portugal não se desfazerem dos seus parcos milionários, subvenções, duplos ordenados, parcerias publico-privadas, nem o ser supremo irá salvar-los.

Se os generais através dos seus parcos milionários ordenados, nem a divina subordinação através das divisas, o ACLAMADO E DISCIPLINADOR, DEUS dos milionários CAPELÕES, irá salvar-nos.

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Mensagem por foca branca Qui 10 maio 2012, 17:31

bezoura escreveu:que seca

coitado.....
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Mensagem por bawer Qui 10 maio 2012, 18:59

Os Generais e afins deviam espreitar o que anda um alferes a fazer no Dter Gaia....
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Mensagem por J.F Qui 10 maio 2012, 23:34

Depois de um dia de atendimento a A impossível subordinação 495409 no SIIOP,ao ler este texto, peço desculpa ao seu autor, mas dá A impossível subordinação Sleeping .
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Mensagem por foca branca Qui 10 maio 2012, 23:50

bawer escreveu:Os Generais e afins deviam espreitar o que anda um alferes a fazer no Dter Gaia....

olha primeiro para ti e depois pensa no que estas a fazer. é que vir para este forum lançar "suspeitas" sem nenhum fundamento, no minimo é covardia.
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Mensagem por Gil Vicente Sex 11 maio 2012, 01:02

bawer escreveu:Os Generais e afins deviam espreitar o que anda um alferes a fazer no Dter Gaia....

Camarada como muito bem sabe, mandar atoardas pró ar é fácil. É fácil atirar a pedra e esconder a mão. Este estilo de comportamento não é digno de um "Soldado da Lei". Desconheço a "peça", tão pouco sei do que fala.

Se quer ser protagonista de alguma "vendeta", se tem conhecimento de causa, honre a farda que veste, para isso os contribuintes lhe pagam, DENUNCIE a quem de direito.

Apesar de ter sido poupado nas palavras, deixa nos users do fórum um sentimento do Dever não cumprido, prestando-se a delação às mais variadas conjecturas.

Não sou defensor do acusado, pois não me foi passada procuração, mas a ser verdade, os seus camaradas e a Sociedade ficarão agradecidos se for feita Justiça.
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Mensagem por Gil Vicente Sex 11 maio 2012, 01:14

Relativamento ao texto postado, tenho a dizer que gostei do conteúdo nele abordado.
Já agora e para logo depois refletir, aqui te deixo esta história.


O ermitão
Durante o reinado do rei Mabdar viveu na Babilónia um jovem chamado Zadig. Era formoso, rico e naturalmente de bom coração. No momento em que esta história começa ele estava viajando a pé para ver o mundo e aprender filosofia e sabedoria.

Mas até esse momento tinha encontrado tanta miséria e suportado tantos e terríveis desastres que estava tentado a rebelar-se contra a vontade do céu e acreditar que a Providência, que rege o mundo, desdenhava o Bem e permitia que o Mal prosperasse. Neste triste estado de espírito estava ele caminhando um dia às margens do Eufrates. Por casualidade encontrou um venerável ermitão cuja barba, branca como a neve, descia até a cintura. Em sua mão o ancião levava um rolo de pergaminho que lia com atenção. Zadig parou e fez-lhe uma reverência. O ermitão devolveu-lhe a saudação com um ar tão bondoso e tão nobre que Zadig sentiu curiosidade de falar com ele. Perguntou-lhe então o que ele estava lendo:

- É o Livro do Destino - disse o ermitão. - Você gostaria de ler este livro?

Entregou o livro a Zadig, mas este, apesar de conhecer uma dezena de línguas, não pode entender uma só palavra do livro.
Sua curiosidade foi aumentando.

- Você parece ter problemas... - disse o bondoso ermitão.

- Sim, infelizmente tenho - disse Zadig. - E tenho razões para estar assim.

- Se me permite - disse o ancião, - eu o acompanharei. Quem sabe poderei ser-lhe útil. `As vezes sou capaz de consolar os aflitos.

Zadig sentiu um profundo respeito pela aparência, a barba branca e o pergaminho misterioso do velho ermitão, e percebeu que a conversa dele era a de uma mente superior. O velho falou do destino, da justiça, da moral, do principal bem na vida, da debilidade humana, da virtude e do vício, com tal poder de eloquência que Zadig se sentiu atraído por uma espécie de encanto, e suplicou ao eremita que não o deixasse até que regressassem à Babilónia.

- Peço-lhe o mesmo favor - disse o ermitão. - Prometa-me que, haja o que houver, você permanecerá em minha companhia por alguns dias.

Zadig prometeu, e juntos se puseram em marcha.

Naquela noite os viajantes chegaram a uma grande mansão. O eremita pediu comida e alojamento para ele e seu companheiro. O porteiro, que poderia ser confundido com um príncipe, os introduziu com um desdenhoso ar de boas-vindas. O chefe dos serventes lhe mostrou os magníficos aposentos, e então lhes foi permitido sentar-se em um canto da mesa, na qual estava o senhor da mansão, que nem se deu ao trabalho de olhá-los. Mesmo assim, iguarias em abundância lhes foram servidas, e depois de cear lavaram as mãos em uma bacia de ouro incrustada com esmeraldas e rubis. Foram então levados para passar a noite em um formoso aposento. Na manhã seguinte, antes de deixarem o castelo, um servente trouxe uma peça de ouro para cada um.

- O senhor da casa - disse Zadig quando estavam caminhando - parece ser um homem generoso, ainda que um pouco arrogante, e pratica uma nobre hospitalidade.

Enquanto falava com ele se deu conta de que uma espécie de bolsa grande que o eremita levava parecia agora abarrotada. Dentro dela estava a bacia de ouro incrustada de pedras preciosas que o velho havia furtado.

Zadig ficou pasmo, mas não disse nada.

Ao meio-dia o eremita parou em frente a uma pequena casa onde vivia um rico avarento e, mais uma vez pediu hospedagem. Um velho criado, usando um puído casaco, os recebeu muito grosseiramente, acomodou-os no estábulo e pôs diante deles umas poucas azeitonas meio estragadas, uns pedaços de pão dormido e cerveja muito amarga.
O ermitão comeu e bebeu com o mesmo prazer que tivera na noite anterior. Quando terminaram o ermitão se dirigiu ao criado, que não havia tirado os olhos deles para assegurar-se de que nada roubariam, deu-lhe as duas peças de ouro que haviam recebido naquela manhã e agradeceu a sua atenção, acrescentando:

- Tenha a bondade de permitir que eu veja seu amo.

O atónito servo os conduziu para dentro da casa.

- Poderosíssimo senhor - disse o ermitão, - eu gostaria de apresentar meus humildes agradecimentos pela nobre maneira com que nos recebeu. Eu suplico que aceite esta bacia de ouro como demonstração de minha gratidão.

O miserável avarento quase caiu da cadeira, de tão assombrado que ficou. O ermitão, sem esperar que ele se recobrasse, retirou-se rapidamente com seu companheiro.

- Santo Pai - disse Zadig, - o que significa tudo isso? Para mim você não se parece em nada aos outros homens. Você rouba uma bacia de ouro com jóias de um senhor que nos recebe magnificamente e a dá a um tacanho que o trata indignamente.

- Meu filho - replicou o ermitão, - esse poderoso senhor que só recebe os viajantes por vaidade e para ostentar suas riquezas de agora em diante se fará mais sábio, e, por outro lado, o miserável será ensinado a praticar a hospitalidade. Não se espante com nada, e siga-me.

Zadig não sabia se estava tratando com o mais sábio ou com o mais tolo dos homens. Mas o ermitão falou com tal convicção que Zadig, preso a sua promessa, não teve outra escolha senão segui-lo.

Nessa noite chegaram a uma casa agradável, de aspecto simples, que não mostrava sinais de fartura nem de avareza. O dono era um filósofo que havia abandonado o mundo e estudava, pacificamente, as leis da virtude e da sabedoria. Era um homem feliz e contente. Ele havia criado esse calmo refúgio para seu prazer e nele recebeu os estrangeiros com uma generosidade que não mostrava sinais de ostentação. Ele mesmo os conduziu a um quarto confortável, onde os fez descansar alguns instantes, e então veio buscá-los para servir-lhes uma delicada ceia.

Nas conversas que mantiveram entre si, concordaram que os assuntos deste mundo nem sempre eram regulados pelas opiniões dos homens mais sábios. O ermitão, por sua parte, sustentava que os caminhos da Providência estavam envoltos em mistério e que os homens faziam mal em emitir julgamento sobre um universo do qual só conheciam uma parte muito pequena. Zadig se perguntava como uma pessoa que cometia actos tão loucos podia pensar tão correctamente.

Finalmente, depois de uma conversa tão agradável quanto instrutiva, o anfitrião conduziu os viajantes a seus quartos e agradeceu ao céu por enviar dois visitantes tão sábios e virtuosos.
Ofereceu-lhes algum dinheiro, mas o fez com tanta franqueza que eles não puderam se sentir ofendidos. O velho recusou e se despediu, pois desejava partir para a Babilónia ao nascer do dia. Separaram-se em tom cordial, e Zadig estava cheio de agradáveis sentimentos por um homem tão amistoso.

Enquanto estavam em seu quarto, Zadig e o ermitão passaram algum tempo elogiando o anfitrião. Ao amanhecer o ancião despertou seu companheiro, dizendo:

- Devemos ir. Mas enquanto todos ainda estão dormindo desejo deixar a este digno homem um sinal de minha estima.

Com estas palavras, pegou uma tocha e deitou fogo à casa.

Zadig começou a gritar horrorizado e teria impedido esse terrível ato, mas o ermitão, com uma força superior, o deteve. A casa se tornou uma fogueira, e o velho, que agora estava bem longe com seu companheiro, olhou calmamente para a pilha fumegante.

- O céu seja louvado! - gritou. - A casa de nosso amável anfitrião está destruída de ponta a ponta!

Ao ouvir estas palavras, Zadig não sabia se chorava ou se ria; se chamava o venerável de velhaco, se o golpeava ou se corria para longe dali, mas ele não fez nenhuma destas coisas. Ainda subjugado pela aparência superior do ermitão, seguiu-o contra sua própria vontade até a hospedagem seguinte. Desta vez chegaram à residência de uma boa e caridosa viúva que tinha um sobrinho de 14 anos, sua única esperança e alegria. Ela fez tudo o que pode pelos viajantes.
Na manhã seguinte pediu a seu sobrinho que os guiasse na travessia de uma certa ponte em ruínas, perigosa de se cruzar. O jovem os conduziu, ansioso por agradá-los.

- Venha - disse o eremita, quando eles estavam no meio da ponte,
- devo mostrar minha gratidão para com sua tia.

Enquanto falava, ele pegou o jovem pelos cabelos e o atirou no rio.
O jovem caiu, reapareceu por um instante na superfície da água e logo foi tragado pele corrente.

- Oh, monstro! - exclamou Zadig. - Você é o mais detestável dos homens!

- Você me prometeu ter mais paciência - interrompeu o velho. - Escute!
Debaixo das ruínas daquela casa que a Providência achou conveniente por em chamas, o dono descobrirá um enorme tesouro; enquanto o jovem, cuja existência a Providência cortou, teria matado a tia em um ano e a você em dois anos.

- Quem lhe disse isto, bárbaro? - gritou Zadig. - Ainda que você tenha lido isso no Livro do Destino, quem lhe deu poder para afogar um jovem que nunca lhe fez nada?

Enquanto falava, Zadig viu que o ancião já não tinha mais barba e que seu rosto tinha se tornado jovem e belo. Seu traje de eremita havia desaparecido, quatro asas brancas cobriam a sua majestosa forma e brilhavam com ofuscante esplendor.

- Anjo do Céu! - gritou Zadig. - Você então desceu do céu para ensinar a um mortal extraviado a submeter-se às leis eternas?

- Os homens - replicou o anjo Jezrael - julgam todas as coisas sem conhecimento, e você é, de todos os homens, o mais merecedor de ser esclarecido. O mundo imagina que o jovem que acaba de perecer caiu por acidente na água e que a casa do filósofo se incendiou por acaso.
Mas a causalidade não existe: tudo é prova, castigo ou profecia.
Frágil mortal! Pare de questionar e de se rebelar contra o que você deveria adorar!

Depois de dizer estas palavras, o anjo alçou voo até o céu e Zadig se prostrou ajoelhado.

Do livro 'Histórias da Tradição Sufi'
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Mensagem por Quintiaes Sex 11 maio 2012, 03:03

Zzzzzzzzzzzzzzz
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Mensagem por Gil Vicente Sex 11 maio 2012, 03:52

Quintiaes escreveu:Zzzzzzzzzzzzzzz

Que A impossível subordinação 97139 . Não era suposto estares a trabalhar. Já sei porque estás a dormitar. A não promoção a GP leva-te a cumprir o velho ditado "não há tostanito, não há trabalhito".A impossível subordinação WelldoneQuanto a mim, vou ficar mais um pouco, pois eventualmente, assim o espero e se tiver quem me acompanhe na prosa, vai ser esta noite que vou ser promovido a 1º sargento. A impossível subordinação 270803 A impossível subordinação Greenrof A impossível subordinação Pjr-laugA impossível subordinação Images?q=tbn:ANd9GcSrACr1zn120GlpQyd6LBE1lzm1ODbG_x9dpCAuAvGzgYYsUBEudA
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Mensagem por bezoura Sex 11 maio 2012, 12:07

Camarad Foca Branca, porque me chamou de "coitado"? È que na minha terra coitado é corno.... está a querer insinuar algo ....
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Mensagem por foca branca Sex 11 maio 2012, 12:35

bezoura escreveu:Camarad Foca Branca, porque me chamou de "coitado"? È que na minha terra coitado é corno.... está a querer insinuar algo ....

foi na sequencia do teu comentario.

o coitado é o antonio soares, que anda a todo o custo fazer passar a sua "treta" e ninguem lhe passa cartuxo.
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Mensagem por Gil Vicente Sex 11 maio 2012, 12:56

bezoura escreveu:Camarad Foca Branca, porque me chamou de "coitado"? È que na minha terra coitado é corno.... está a querer insinuar algo ....

Éh pá, isto é que vai aqui uma açorda!A impossível subordinação Pjr-laug
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Mensagem por TioDavid Sex 11 maio 2012, 12:58

o antonio ve se deixas essas merdas. não te fazem nada bem
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Mensagem por bezoura Sex 11 maio 2012, 15:55

Camaradas está tudo bem.... sem stress
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Mensagem por Sinito Sex 11 maio 2012, 20:09

no meio de tanta treta fiquei sem perceber o q se passa no Dter Gaia....

Alguem esclarece?
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Mensagem por foca branca Sáb 12 maio 2012, 02:06

não se passa nada, a não ser o destacamento mais operacional do país.
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